O capital de risco tem uma história tão antiga quanto o capitalismo em si, surgindo na época dos descobrimentos marítimos, a par das expedições náuticas que partiam dos Países Baixos para a Ásia.
Fazemos fast-forward para século XXI, e vemos hoje as sociedades de capital de risco como uma das principais formas de financiamento para startups e PME. Por isso, abordamos aqui o que são, quais as suas tipologias, as suas vantagens e damos um exemplo prático: a Portugal Ventures, uma sociedade de capital de risco pública portuguesa.
Capital de risco: o que é?
É uma forma de financiamento às quais novas e pequenas empresas podem recorrer para apoiar o seu desenvolvimento e crescimento. Quando uma capital de risco financia uma empresa, está a aumentar diretamente o seu capital, de forma a poder financiar as suas operações.
Comparado com outras formas de financiamento, há uma grande diferença que salta a vista: o capital de risco é «a única que assume o sucesso do negócio como o sucesso do seu próprio investimento(1)». Ou seja, o capital de risco não beneficia de juros ou amortizações como outras formas de financiamento. As sociedades de capital de risco beneficiam só e apenas se a empresa onde investem crescer e se tornar rentável.
Em Portugal, existem mais de 60 sociedades de capital de risco registadas na CMVM, das quais faz parte a Portugal Ventures, que analisaremos mais abaixo. A par das informações que pode obter na CMVM, saiba ainda que existe uma Associação Portuguesa de Capital de Risco, APCRI, onde pode obter mais informações sobre as sociedades de capital de risco a atuar em Portugal.
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Como funciona o Capital de Risco e a que tipos de empresas ou fases se aplica?
O capital de risco ajusta-se mais a empresas dentro de mercados muito competitivos e inovadores, como a tecnologia. Startups e PMEs são os principais destinatários e em fase early stage. Mas o capital de risco também investe em empresas noutras fases, como, por exemplo: fases de expansão, internacionalização e modernização.
Ao negociar um financiamento via capital de risco, todas as condições são predefinidas em contratos incluindo o acordo Parassocial. A sociedade de capital de risco pode investir tudo de uma só vez, através de parcelas, ou, ainda, através de outros instrumentos financeiros análogos. Ao entrar numa empresa, a sociedade fica com uma parte da mesma, embora seja, na generalidade dos casos, uma parte minoritária. Ao fim de 3 a 7 anos, em média, a sociedade aliena esta sua participação na empresa.
Tenha ainda em conta que a sociedade de capital de risco fica com um lugar no conselho de administração, tendo, por isso, capacidade para influenciar a estratégia da empresa. Ou seja, este investidor tem um papel ativo no desenvolvimento e crescimento da empresa.
Nota: para perceber melhor o vocabulário utilizado pelas sociedades de capital de risco, aconselhamos a consulta a este glossário da APCRI.
As vantagens do Capital de Risco
Podemos identificar 6 vantagens do capital de risco. São as seguintes:
- não exige garantias reais ou pessoais; o investidor assume os mesmos riscos e sucessos da empresa onde investe;
- disponibilização de capitais próprios ajustados às necessidades da empresa;
- sem encargos financeiros para a empresa que recebe o financiamento;
- empresa pode na mesma recorrer a outros tipos de financiamento, acumulando-os com o capital de risco;
- existem capitais de risco com foco em áreas mais específicas, como a biotecnologia, o que aumenta as hipóteses de financiamento destes negócios;
- a sociedade da capital de risco traz também o seu conhecimento para ajudar a aumentar a network e know how da empresa que recebe o financiamento;
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O exemplo da Portugal Ventures
A Portugal Ventures é a sociedade de capital de risco mais reconhecida em Portugal. Pertencente ao Estado, esta sociedade é comparticipada pelo Banco Português de Fomento.
Investe em startups em fase de pre-seed, seed e series A que apresentem soluções inovadoras para o mercado internacional nos setores digitais e tecnológicos, indústria e tecnologia, saúde e turismo.
Em 2022, a Portugal Ventures investiu 18,6 milhões de euros em novos negócios e reforços de participação. No total, investiu em 17 novas startups, entre as quais destacamos as seguintes:
- Unlock Boutique Hotels (turismo);
- Cell4Food (agricultura celular / biotecnologia)
- GovWise (Ciência de Dados / Inteligência artificial)
Como é que a Portugal Ventures investe?
A Portugal Ventures investe por tranches, definidas de acordo com os objetivos traçados entre a sociedade de capital de risco e a empresa que beneficia do investimento. Ou seja, por cada objetivo atingido pela empresa, a Portugal Ventures entra com mais capital.
Consoante o setor e o estágio de desenvolvimento da empresa, a Portugal Ventures investe entre 50.000 a 1,5 milhões de euros.
Ao investir numa empresa, a Portugal Ventures fica com uma participação minoritária da mesma e passa a integrar o Conselho de Administração.
As empresas onde a Portugal Ventures investe beneficiam também da sua rede de parceiros ( Ignition Partners Network), capazes de fomentar o crescimento das mesmas através do conhecimento que trazem.
Como é que me posso candidatar a um financiamento da Portugal Ventures?
Pode candidatar a sua empresa de duas formas distintas: através de uma Call aberta pela Portugal Ventures, ou, durante um Open Day, que se realiza sempre na primeira sexta feira de cada mês (à exceção de agosto). Estes Open Days têm um limite de 10 inscrições, por isso, tem de estar atento, ser rápido e inscrever-se o quanto antes.
Em ambos os casos, prepare-se com um bom pitch e um plano de negócios bem estruturado. Dois pontos onde a Lisboa Investments pode ajudar. Fale connosco.
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Em suma
A Portugal Ventures é um dos exemplos mais notórios de capital de risco em Portugal. A Sociedade investe em startups em fases iniciais, com uma vertente claramente tecnológica, embora essa tecnologia possa ser transversal a vários setores, como o turismo ou a biotecnologia.
É importante notar que este financiamento tem a vantagem de não ter encargos para a empresa que o recebe (ex: não existe o pagamento de juros). Além do input financeiro, a empresa que recebe esse investimento beneficia ainda com o conhecimento da sociedade de capital de risco, que passa a ajudar na estratégia da empresa.
(1) Guia Prático do Capital de Risco (2006), IPMAEI e APCRI